Desde o momento em que José Sócrates começou a aparecer na cena política com mais insistência e visibilidade, na altura enquanto Ministro do Ambiente do Governo de António Guterres, que me pareceu um político de plástico,o que se revelava no seu discurso, que apesar de coerente não apresentava na altura rasgo e visão e que demonstrava muito ensaio na construção de uma personalidade feita para ser actrativa, com recurso a muita citação, mas sem o essencial, o poder de se demarcar dos demais e demonstrar poder de concretização. Da obra, lembro-me apenas da polémica de Souselas e dos aterros Sanitário que o mesmo defendia de forma tão veemente!!!
Até que certo dia, esquecido de todos os portugueses, porque nada tinha feito para nos lembrarmos, surge com 4º ou 5º candidato de uma ala, para se candidatar ao comando do partido. Uma vez mais, nada davam por ele, senão quando José Sócrates começa a demonstrar algum engenho político e que, justiça lhe seja feita, o levou a almejar paulatinamente o lugar de Primeiro-Ministro, que com o contributo do PSD acabou por conseguir.
O que é facto, é que José Sócrates é Primeiro- Ministro de Portugal, demonstrou qualidades que ninguém conhecia, conquistou a 1º maioria absoluta para o partido Socialista e mantém-se á frente das sondagens como o principal candidato a ganhar as eleições legislativas deste ano.
De todo o modo, é indisfarçável o falhanço da política que preconizou para o País, os dados que diariamente vemos são extremamente negativos, o desemprego, o endividamento público, a incapacidade pra levar a cabo as reformas estruturais tão bem anunciadas, mas as quais, ou não avançam ou não se concretizaram, o que é exactamente a mesma coisa.
É unânime e visível, as condições de vida dos portugueses deterioraram-se e o caminho da modernidade e desenvolvimento do País há muito que se perdeu. O argumento de que a crise internacional é a principal culpada dos resultados da economia portuguesa, são uma falsa afirmação e pura demagogia, na medida em que a crise prejudicou a nossa economia mas, fez mais que isso, demonstrou as fragilidades e a debilidade da nossa economia e colocou a nu , a incompetência e o fracasso em toda a linha da política preconizada por Sócrates
Outra coisa que me incomoda em Sócrates, o que acaba por ser o seu maior trunfo, é a sua apetência para dialogar e manobrar a comunicação social, através de entrevistas "sedutoras", inaugurações "dispendiosas" ou tentando imiscuir-se no trabalho das redacções informativas. Escrevia neste fim de semana, José António Lima, do semanário Sol " Não houve, ao longo dos últimos 30 anos de vida democrática, Governo como este de José Sócrates que dispensasse tantas energias a tentar condicionar jornalistas, directores e patrões dos media". Dirão que isto é normal e sempre aconteceu. Não, Cavaco Silva quando chega ao poder decide iniciar um processo em que decide abrir a televisão a privados e privatiza a grande maioria dos meios de comunicação social, iniciativa que tinha a oposição do partido socialista, ainda "agarrado" a certos dogmas e tinha uma perspectiva estatizante do Estado. Coincidência?
Mais uma vez, este fim de semana, José Sócrates me desapontou. O deplorável jornal de sexta-feira na TVI, como é apanágio, lançou a notícia de um vídeo em que Charles Smith, arguido do processo Freeport, implicava José Sócrates directamente no processo de legalização do mesmo, para além de dizer que Sócrates iria receber por intermédio de x, determinadas quantias. Não é a questão de o nome Sócrates ter sido mais uma vez envolvido neste processo que me incomodou, visto até que, Charles Smith logo veio desmentir que algum dia tenha proferido semelhantes acusações. A parte caricata vem, quando o gabinete de comunicação do Primeiro-Ministro vem dizer uma vez mais que recusa todas as acusações e refere uma vez mais a campanha negra que se está a desenrolar. Ora, considero que Sócrates tem legitimidade para continuar a exercer as suas funções, na medida em que não foi constituído arguido, e é titular da presunção de inocência, mas não é por apregoar aos 7 ventos que nada tem a ver com "estranho" processo Freeport que temos de o tomar por dado adquirido. Ainda não percebi, porque é que Sócrates apesar de não ter sido chamado a prestar declarações, não se disponibiliza a narrar a sua versão dos factos, visto que era o responsável máximo do ministério que legalizou uma obra dias antes de entrar em funções outro governo, e obra essa, que estava orçada em vários milhões de euros e que de certo enriqueceu alguém. Podia assim, de forma clara dissipar todas as dúvidas, clarificando de forma cooperante a sua posição e ajudando a perceber melhor o caso. Não percebo esta postura de caça ás bruxas e vitimização. Apesar de perceber que politicamente lhe é vantajoso, éticamente não posso concordar com postura semelhante.
Bem vistas as coisas, não reconheço grandes qualidades políticas a José Sócrates e apesar de ter uma posição muito própria sobre o Primeiro-Ministro, não consigo deixar de pensar que os números do desemprego, as dificuldades da nossa economia e a fragilidade bem patente das famílias portuguesas me dão razão.
Termino á boa maneira de José Sócrates, com uma citação:
"Nunca houve um monumento à civilização que não fosse também um monumento à barbárie", Walter Benjamin, ensaísta alemão (1892-1940).