quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Tinha que colocar aqui este post...












Um amigo atento enviou-me o texto acima reproduzido. Ele mostra qual é o código genético da campanha de Manuela Ferreira Leite. Evidencia como estão longe de ser meras "gaffes" superficiais algumas afirmações suas dos últimos meses, que regularmente se vieram acumulando, sob a estranha bonomia da comunicação social dominante e o silêncio embaraçado de muitos membros do PSD, aos quais a contaminação pelos automatismos salazarentos suscita uma real incomodidade.

Reduzir a luta política a um combate entre a "verdade" de que se tem o monopólio e a "mentira" que se procura incrustar na identidade dos adversários, como raiz de todas as suas posições, é o caldo ideológico que se encontra na atmosfera malsã que rodeia a pulsão autoritária que dá energia a todos os ditadores. Não chega para caracterizá-los, mas nenhum deles se pode dar ao luxo de a dispensar.

E a esta luz , podemos perceber que os célebres seis meses de pausa na democracia que MFL almejava para governar em paz, não foi atabalhoamento de senhora inexperiente, foi antes um apelo irreprimível de uma pulsão de "verdade" que se autolegitimou espontaneamente, para enclausurar todas as "mentiras" durante um moderado semestre.

Compreendo que se possa encarar como exagerada esta imersão de uma frágil avó no universo de ferro do defunto salazarismo. Seria, se a estivéssemos a imaginar, participando com toda a energia numa marcha da Mocidade Portuguesa Feminina, cantando o hino da restauração. Mas não estamos. Nem acreditamos que MFL pela calada da noite reze uma ave-maria, mesmo que piedosa, pela alma do ditador de Santa Comba, ou que tenha alguma saudade pungente do salazarismo.
Mas seguramente que se trata de um sinal objectivo de que, sob o verniz superficial dos lugares comuns da política quotidiana, passada que seja a camada, mesmo que apreciável, dos seus conhecimentos de economia, a MFL pouco mais resta do que um vazio cultural desolador. E quando a realidade lhe exige, pelo que tem de complexa, algo mais denso do que os lugares comuns da política e algo de menos linear do que os seus conhecimentos especializados da área económica, MFL não dispõe de recursos culturais enraizados na sua mundividência, correspondentes ao que as camadas mais superficiais do seu pensamento precisariam, para serem coerentemente prolongadas. E é assim, naturalmente, que automaticamente terá que recorrer à arca esquecida da sua identidade ideológica mais funda, às pulsões que moldaram a sua juventude. Uma juventude durante a qual, que se saiba, não sentiu o imperativo de tornar ostensiva qualquer resistência à real asfixia fascista em que viveu até 1974.

Ou seja, MFL, ao mostrar que, espontaneamente, está ainda influenciada pela ideologia conservadora que foi suporte do consulado do "financista" de Santa Comba, não revela apenas o código genético mais fundo do seu pensamento. Mostra também como o seu economicismo compulsivo não é, como nos querem fazer crer, um reflexo irreprimível da sua excelência como cultora da ciência económica, mas sim a modesta consequência do facto de, fora dessa área, MFL estar apenas atafulhada de lugares comuns político-culturais, por debaixo dos quais repousa o senso comum conservador da sua "desasfixiada" juventude, passada na "tranquila" bonomia dos "bons velhos tempos."

1 comentário:

Anónimo disse...

É a primeira vez que visito o blog e
fiquei seriamente intrigada com este post.
Vem confirmar certas supeitas pessoais que tinha.
Julgo que todos os jovens que acompanham e gostam de política não se reviam no discurso da dra. Manuela Ferreira Leite. Um discurso ultrapassado com linguagem que aquando do nosso nascimento já estava igualmente ultrapassada.
Até a forma de estar e de se apresentar não era de todo atractiva.
Precisamos de pessoas jovens, com ideias novas e empreendedoras. Coisa que a dra Manuela não apresentou. Acompanhei os debates e algumas notícias de campanha e ideias nem vê-las. Julgo que pessoas assim deveriam até ser desqualificadas porque não estão a acrescentar um contributo válido para o país. E gastaram-se milhões numa campanha (respectivamente a do PSD) para aquilo?! E quando digo aquilo é porque não consigo descrever-lo.
Não sei como pessoas já com uma suposta maturidade, boas habilitações académicas, anos de experiência, têm comportamentos e decisões tão reprováveis e ideias tão mediocres.
Atrevo-me até a dizer que na minha faculdade se fazem debates bem mais interessantes, com ideias não tanto descabidas quanto muitos sábios julgam.
Será que os nossos políticos vivem numa redoma de vidro e não compreendem por completo aquilo de que realmente o povo necessita?!
Gostaria de os ver a serem obrigados a experienciar por um mês cada decisão que tomem.

Silveira