quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O episódio das escutas à Presidência da República, envolto em grande polémica e de contornos pouco claros, teve, para já, um efeito imediato; Deitou por terra a aposta de Manuela Ferreira Leite em colar ao governo PS uma postura repressiva, de asfixia democrática da sociedade civil, bem como, permite à campanha socialista libertar-se desse espartilho que, até então, tinha dado lugar a tantos dissabores. Faltam 3 dias para as eleições legislativas e, apesar de a corrida eleitoral estar em aberto, este caso, condicionará e influenciará com certeza o acto eleitoral, veremos de que forma.
Aproveito para colocar aqui o texto de António Costa, Director do jornal Diário Económico, cuja opinião me parece retratar, de alguma forma, o pulsar do ambiente eleitoral por estes dias.
A campanha para as legislativas já entrou na recta final, e entrou da forma mais surpreendente, com a participação de quem prometera ficar fora dela, isto é, do Presidente da República.
As explicações continuarão a ser exigidas a Cavaco Silva, que dificilmente as dará até ao dia 27. Ora, salvaguardada a hipótese de o Presidente ter uma ‘arma secreta' para jogar, suficientemente forte para ‘virar' o rumo da campanha contra o PS e a favor do PSD, é possível anticipar os próximos dias.
José Sócrates, a quem tudo tinha corrido mal nos últimos meses, particularmente desde que perdeu as europeias, quase voltou a estar em ‘estado de graça', por mérito próprio, mas sobretudo por demérito alheio. Tendo em conta o estado da economia, o desgaste político de guerras com corporações como a dos professores e os casos pessoais que foram afectando a sua imagem, Sócrates mostra uma resistência e um fôlego impensáveis, especialmente para quem ditou tantas vezes no último ano a sua morte política.
José Sócrates vai dramatizar o discurso do voto útil, vai fugir do Bloco de Esquerda como quem foge da cruz, vai ‘esquecer' o Presidente da República até sábado, e vai apontar para a necessidade de uma estabilidade governativa que permita fazer o país sair da crise. Hoje, a quatro dias das eleições, está claramente à frente nas intenções de voto, e mais próximo de reeditar uma vitória nas legislativas do que nunca. Cavaco também ajudou à festa.
Manuela Ferreira Leite, a quem tudo tinha corrido bem nos últimos meses, particularmente desde que ganhou as europeias, está neste momento com uma estratégia do género ‘todos ao molho e fé em Deus'. A líder do PSD passou com mérito o processo dos debates a dois, foi capaz de explicar algumas das suas propostas, foi sobretudo capaz de explicar o que não quer fazer se ganhar. Mas, também como se esperava, a campanha eleitoral na rua não é o seu ambiente, e os casos que se foram conhecendo ao longo da primeira semana, nomeadamente a alegada compra de votos para as eleições internas do partido envolvendo António Preto, uma escolha sua para a lista de deputados, afectou muito o seu desempenho.
Manuela Ferreira Leite fez da verdade o eixo central da sua estratégia política para derrotar Sócrates, por isso, o caso das escutas em Belém e a forma como o Presidente demitiu um assessor não poderia ter sido em pior altura.
Nos próximos dias, Manuela Ferreira Leite só tem uma saída: dramatizar o discurso da verdade e manter-se fiel à sua estratégia, afastar-se de Cavaco Silva o mais possível, assustar os eleitores com o ‘papão' do Bloco de Esquerda e jogar os peso-pesados do partido, como já se viu com as intervenções de Marques Mendes e até de Francisco Balsemão. Ferreira Leite vai jogar mais com o coração do que com a cabeça, sabendo que está quase no período de desconto, e isso é, regra geral, uma má estratégia.
Hoje, a quatro dias das eleições, Manuela Ferreira Leite está claramente atrás nas intenções de voto, tem um caminho cada vez mais estreito, mas ainda não perdeu. E a presidente do PSD já demonstrou uma tenacidade e uma capacidade de resistência surpreendentes, por isso, está ainda a tempo de baralhar as contas.

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