segunda-feira, 29 de junho de 2009

Um Novo Modelo de Desenvolvimento - Parte I

Portugal atravessa neste momento uma crise bem mais abrangente e intensa que a tão propalada crise internacional.
É tal como o fado e a saudade uma crise tão nossa, que acompanha todos os portugueses, com o seu costumeiro pessimismo e derrotismo. Uma crise de valores, de iniciativa, de desenvolvimento e modernidade, que nos traz à memória a ditadura salazarista em que o povo se caracterizava pela sua pequenez de espírito e resignação a um estado de coisas em que, à partida, estamos condenados a ser pobres, analfabetos e devotos de algo superior que nos salve da mediocridade reinante, quiçá ainda el rei D. Sebastião.
O nosso atraso de desenvolvimento reside numa herança histórica e cultural que, contudo, não temos sabido contrariar, em prole de uma sociedade mais justa, mais evoluída, mais moderna, um país mais rico e ambicioso.
Nos nossos dias, afigura-se fundamental que tomemos opções correctas, ponderadas e fundamentadas, e por vezes radicais e fracturantes com o passado, de forma a alterarmos o fado que nos calhou em condição.
É necessário reflectir e abordar o modelo de desenvolvimento que seguimos, se o mesmo é o mais correcto e mais justo, se é o modelo mais defensável para prosseguir o esforço de desenvolvimento e modernidade de Portugal e de melhoria da qualidade de vida da população.
Para alcançar este desiderato, deixo à consideração alguns dados sobre o desenvolvimento do país para, posteriormente, num segundo texto avançar com a crítica ao modelo actual e apresentar um novo rumo, uma nova perspectiva.
  • Portugal corre o risco de, na nossa história contemporânea de passar uma década inteira a divergir economicamente da Europa e em 2009 ocupamos o 21º lugar no ranking europeu, quando já fomos o 14º país mais desenvolvido. Enquanto outros países mais pobres começam a convergir e a desenvolver-se, Portugal afasta-se e prepara-se uma vez mais para ocupar a cauda da Europa, mas agora a 27;
  • O nível de vida dos portugueses está cada vez mais longe do nível de vida dos europeus. O nosso rendimento per capita, corrigido pela paridade do poder de compra, correspondia em 1999, a 78,4% da média europeia. Em 2008, baixou para 73,3%;
  • O endividamento das famílias é hoje, de cerca de 130% do seu rendimento disponível, já o endividamento das empresas ronda os 100% da riqueza nacional. Somos o segundo país mais endividado da zona euro;
  • O nosso défice externo tem vindo perigosamente a aumentar. Portugal endivida-se hoje, em cerca de 9% do seu Produto Interno Bruto;
  • Temos uma das mais altas taxas de desemprego da Europa e com tendência para aumentar, cerca de 600.000 desempregados, com os problemas ao nível da coesão económica e do drama social que isto acarreta para a sociedade.

Poderiam ser outros os exemplos e os mais variados. O que temos por certo reside na necessidade de mudança, a procura de novos rumos e de novas políticas. A premência da ruptura com um passado e com políticas que assentam na promiscuidade entre poder político e poder económico, em que o mais pequeno vislumbre de reforma estrutural é logo arrasado pela oposição dos grupos e interesses instalados. É fundamental rechaçar com esta falta de vontade, com esta inércia e propor de uma vez por todas políticas e reformas que possam colocar Portugal no trilho do desenvolvimento e da modernidade, com uma sociedade interventiva e atenta, consciente que a iniciativa privada deve ser, a par do estado, os motores fundamentais do desenvolvimento económico e social que devemos defender e aspiramos alcançar.

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