domingo, 19 de abril de 2009

Instrução dirigida, mas sem "facilitismos"

No dia 14 de Março de 2009, foi publicado no "Expresso", um artigo de Nuno Crato intitulado "Praticando! Praticando! Praticando!", o qual valorizei bastante.

Nuno Crato é um matemático e estatístico português que tem tido uma extensa actividade de divulgação científica.

Nesse artigo, Nuno Crato fala de pedagogia e dos seus métodos, dando ênfase a aspectos como a prática, memorização, avaliação organizada, e valorizando ainda o papel de uma instrução dirigida, a qual defendo de forma acérrima! Tudo isto, aproveitando para citar psicólogos e estudiosos da cognição como Henry L. Roediger, David Geary e Nathaniel Lasry.

Neste âmbito, foi dada atenção à importância da repetição organizada que tem sido reforçada por muitos estudos modernos sobre o funcionamento da mente humana. Esta repetição organizada era desaconselhada por correntes pedagógicas antiquadas que consideravam a prática e a memorização contraproducentes.

Em relação a Roediger, Nuno Crato deu a conhecer estudos que concluem que os conhecimentos ganham em ser recapitulados e reavivados, mesmo quando estão já memorizados ou assimilados, ou seja, o estudante deve revisitar as matérias aprendidas anteriormente, mesmo quando progride para outros assuntos. Outro aspecto interessante que faz parte dos estudos de Roediger e que ele considera decisivo para a aprendizagem de longo prazo é o papel dos testes, na medida em que estes fazem com que seja possível ao estudante ter noção do seu estado de aprendizagem. No entanto, essa noção parece ser limitada não levando o estudante a reforçar o seu estudo no que mais necessitam.

Para além disto, o autor do artigo liga a palavra "sobreaprender" a David Geary, porque este refere que os estudantes não devem parar depois de terem assimilado o estritamente necessário de determinada matéria, mas devem prosseguir, estudando mais, de forma a reterem o máximo da própria matéria original.

Quando fala de Nathaniel Lasry, é dada referência à forma como este faz as suas interpretações no âmbito de descobertas sobre o carácter activo e adaptável da memória. Neste sentido, é dito que cada vez que um facto é relembrado, a memória transforma-se e reforça-se, recriando-se em novas versões.

Sendo assim, é possível chegar a algumas conclusões determinantes.
Se existe o objectivo de consolidar conhecimentos, há mais que razões para se defender uma avaliação organizada. Avaliação esta que deve ser efectuada de forma repetida e espaçada, pois ao testar os conhecimentos, procede-se a uma recuperação activa da memória, o que por sua vez, reforça os conhecimentos.

De acordo com as considerações de Nuno Crato, todos estes trabalhos científicos são essenciais, nomeadamente, pelas 3 seguintes razões:
- fornecem novos argumentos aos modernos estudos de pedagogia;
- reforçam o papel da instrução dirigida;
- põem em causa as velhas recomendações românticas de um estudo puramente autónomo, conduzido ao ritmo do aluno.

Ora, concordo plenamente com as considerações de Nuno Crato e dos psicólogos e estudiosos da cognição que ele fez questão de referir.

Considero vital este tipo de artigos, sobretudo em tempos de adaptação das faculdades ao Processo de Bolonha, o que em algumas conduz a muitas indefinições, tanto ao nível dos estudantes como a nível pedagógico, onde é visível que muitos professores, apesar de serem excepcionais nas suas áreas, necessitam de ver melhoradas as suas qualidades pedagógicas, conduzindo a uma importante instrução dirigida que contribui para o sucesso dos estudantes, não através de "facilitismos", mas sim de uma avaliação organizada com a criação de métodos de estudo, dando ênfase ao carácter activo e adaptável da memória, reforçando e consolidando conhecimentos.

1 comentário:

Anónimo disse...

muito bem visto