segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Foram divulgados novos dados relativamente à evolução do número de abortos praticados em Portugal. Segundo dados avançados pelo Ministério da Saúde, no primeiro semestre de 2009, realizaram-se cerca de 10.000 abortos, uma média de 55 por dia.

Podemos fazer a seguinte análise, ou estes são dados positivos, na medida que os abortos clandestinos reduziram-se de forma drástica após a despenalização do aborto, e as mulheres portuguesas passaram efectivamente a recorrer aos hospitais públicos; ou, por outro lado, o aborto passou a ser utilizado como método contraceptivo, ou melhor, a desresponsabilização por parte dos casais que deixaram de ter preocupações contraceptivas, com base no facto de terem ao seu dispôr um meio último que lhes permite impedir o nascimento de uma criança, instalou-se.

A conclusão que devemos retirar será sempre algo subjectiva porque distam ainda poucos anos desde a entrada em vigor da despenalização, consequentemente não há estudos que possam fundamentar qualquer posição logo, possuímos ainda meras indicações.

No entanto, recordo que a argumentação que tinha por base o receio de que a interrupção voluntária da gravidez viesse a ser utilizada como método contraceptivo, aquando do referendo já pesava nas considerações dos anti-abortistas e, parece-me de facto que este aumento exponencial no número de abortos, não se deve apenas à diminuição dos abortos clandestinos.

Não creio que esteja em causa, para já, uma ponderação que reflicta a validade desta lei, mas é certo, pelo menos, que o Estado Português falhou rotundamente um dos objectivos indispensáveis à aprovação da lei: A educação sexual e o planeamento familiar simplesmente não existem, e são completamente nulos. Após várias promessas ainda não avançaram com as aulas de educação sexual nas escolas e o poder político assobia para o lado sempre que se toca neste assunto.

Uma vez mais digo, todas as formações políticas e todos os seus agentes têm responsabilidade nesta matéria, mas parece-me claro que os partidos que votaram favoravelmente à aprovação da lei, em particular o partido socialista- responsável pela condução dos destinos do país-, têm demasiadas responsabilidades nesta matéria para nada terem concretizado.

Á semelhança de outras situações que se passam neste nosso Portugal, este deixa-me particularmente preocupado e envergonhado, pela importância que acarreta e as consequências nefastas que causa para a população.

4 comentários:

Silveira disse...

Se já tivesses ido ao hospital e falasses com uma mulher que está na iminência de fazer um aborto com certeza não falarias assim. Isso é um assunto muito delicado, em que os homens, pelo menos os que não estudam sobre o assunto, não deveriam falar. Não há nenhuma mulher que o faço de animo leve. Pode haver jovens inconsequentes e que na altura poderá parecer que não lhes afecte, mas com certeza trará repercussões a longo prazo. Se fores ver as estatísticas, coisa que os nossos políticos adoram, verias que 70% das mulheres sofrem de depressão pós-aborto. Portanto, o que retiro daqui é que não o fazem como método contraceptivo e muito menos com essa leveza de que os políticos anti-aborto falam.
Se fores ver ao terreno verás que a maioria das pessoas que o fazem não são as da classe baixa ou chamemos-lhe mesmo os pobres. Estes até dizem: é como o toyota veio para ficar. Por incrível que parece são essas pessoas que mais contribuem para a natalidade do país e para a despesa do estado, claro!
Mais uma vez o digo aqui que todos os homens deveriam pensar muito bem antes de falarem sobre este assunto, porque é um assunto muito delicado para as mulheres. E muito menos ser tratado como uma disputa política. Isso é que envergonha o país.
De qualquer forma concordo quando dizes que há falta de planeamento familiar e educação sexual. É um assunto do qual me tenho debatido. As mentalidades mudam com educação e formação. E é coisa que falta pelos bairros fora desse país. Dar-lhes casas de cimento e um subsídio não basta. O que essas pessoas carecem é mesmo de educação.
Essa deveria ser uma bandeira de todos os partidos, de todas as pessoas bem formadas. Mas como sempre todos os partidos preferem entrar no joguinho de apontar o dedo a quem está no poder e não fazer o trabalho cívico que lhes cabe.
Todos os partidos deveriam se envergonhar do trabalho que tem prestado ao país.

João Paulo Sousa disse...

Fica registada a opinião. Mas como compreende, arrogo-me com toda a propriedade a emitir as convicções que defendo, sem qualquer limitação e condicionamento apesar de, como diz, ser Homem...

Silveira disse...

Convicções todos nós temos. Mas quando se trata de pessoas que pretendem ter uma participação activa na vida política, julgo ser necessário um trabalho mais aprofundado. E não tratar temas delicados (que afectam em primeira mão as mulheres e consequentemente os seus companheiros) com esse tom de leve e cingindo-se a números. Pessoas não se resumem a números. E esse é o grande problema dos nossos políticos, julgam tudo através dos números.
Que por sinal não são nada assustadores. França (208.759)
Reino Unido (195.483)
Itália (133.000)
Alemanha (128.030)
Espanha (79.788)
EUA (1,313,300) por ano.

Silveira disse...

E uma percentagem desse número (10 000)deve-se a violações, má formação dos fetos, etc...