sábado, 31 de outubro de 2009

Caim

O novo livro de José Saramago "Caim" foi o ponto de partida para uma nova polémica, acesa na promoção do livro. Grossomodo, o mesmo proferiu que a Bíblia está cheia de horrores, incestos, traições, carnificinas." Referiu ainda que costuma chamar ao livro sagrado dos cristãos "um manual de maus costumes".

Quanto a esta polémica, surge-me extremamente empolada e sem revelar nada de novo. Primeiramente, o escritor Saramago é livre de emitir opinião acerca dos assuntos que entender. Assiste-lhe a liberdade de expressão para exprimir as suas ideias, por mais descabidas que estas sejam,e, independentemente dos objectivos que sujazem à emissão desta opinião em concreto, neste preciso momento. Nada mais há a acrescentar neste ponto.

Quanto ao conteúdo das afirmações de Saramago no que concerne ao texto Sagrado, salvo alguma crítica descontextualizada, é matéria que conhecemos há bastante tempo e, já foi, por demais escalpelizada e analisada à luz de vários autores e várias perspectivas, ao longo do tempo. Temos por certo, que o Deus da Bíblia, no Antigo Testamento, era castigador, vingativo, exigente. Nas várias narrações o sacrifício e a expiação são temas recorrentes.
Podemos, de certa forma, não concordar com a opinião emitida, mas parece-me de todo descabida, o sem número de pessoas que, camuflando-se de damas ofendidas vieram a público excomungar o escritor e por em causa toda a sua obra, mal se apercebendo que assim o serviam melhor. Excessivo e desnecessário.

Por outro lado Saramago também não é inocente e com todo o respeito que tenho pela pessoa e a sua obra, e sem passar os limites da boa educação, tenho para mim, que é um tonto, que possui uma relação amor-ódio com Portugal, e que cada vez que abre a boca em relação ao nosso País, é para dizer asneira da grossa. No entanto, nasceu em Portugal- por muito que lhe custe-, tem uma vastíssima obra e foi vencedor do prémio Nobel. Portugal ficou engrandecido pelos seus méritos, logo algum excesso e tonteria deverá ser-lhe perdoado.
Registo para a elevação com que a chefia da Igreja tratou esta questão, nunca deixando de respeitar o escritor e colocando a questão sempre no plano das ideias, defendendo que a interpretação a fazer do texto sagrado, em muito ultrapassa a leitura literal feita por Saramago.

Toda esta agitação não passa de um fait-divers de época. Saramago continuará a ser polémico, e nós continuaremos a reagir com assombro e de forma frenética, sem percebermos que a vida é toda ela trespassada por diferentes perspectivas, todas elas discutíveis e todas criticáveis.

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