quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Silly Season


Apelida-se de silly season a este período de tempo que medeia o final do mês de julho e o fim do mês de agosto, e que, comummente, significa a ausência de qualquer tipo de interesse e de actividade nas mais diversas áreas, com enfoque para o abrandamento da actividade político- partidária, com a ida para férias de grande parte da nossa classe política. No entanto, haverão outras coisas que dão muito que falar nesta altura do ano, tal como, o recrudescimento da discussão em torno da justiça. Assim que os tribunais entram em férias judiciais aproveita-se para fazer um balanço e análise do ano judicial, que salvo raras excepções, é sempre, mais que negativo e sem solução à vista.

De qualquer forma, existem todos os anos alguns motivos de interesse que vão prendendo a atenção dos cidadãos, caso das pré-épocas dos clubes de futebol, que nos fazem sair mais cedo da praia e seguir religiosamente, jogos de futebol das nossas equipas, contra clubes da terceira divisão suíça e, cuja exibição é miserável e o resultado desolador- salvo o grande Benfica nesta pré- época. De todo o modo, é um hábito- mau por sinal- que acompanha todos aqueles que gostam de futebol e que se repete ciclicamente todos os verões.

Este Verão, fomos presenteados com dois tipos de notícias recorrentes: A inesperada morte do rei da Pop, Michael Jackson, bem como os constantes alertas de contágios provocados pelo vírus H1N1, vulgo gripe A. O primeiro caso trata-se, de forma clara, de um abuso e excesso de informação sobre uma situação sobre-explorada e que, alimenta apenas a curiosidade mórbida de alguns, sem qualquer benefício palpável para a maioria dos cidadãos. Já no segundo caso, cabe à comunicação social a responsabilidade de divulgar os meios preventivos e a informação indispensável à salvaguarda dos cidadãos, e, ao que chamaríamos serviço público- o que não invalida que também hajam excessos de zelo ao transmitir a informação. De qualquer forma, o relevo para a população nestes dois casos é facilmente destrinçável.

Ora, somos confrontados diariamente com dois tipos de notícias, as que possuem matéria bastante para serem publicadas ou difundidas, e aquelas que apenas o são por mero interesse comercial, visto que, do ponto de vista do interesse e da substância da notícia não tem o menor relevo. Vejamos: como é possível terem passado praticamente 2 meses da morte de um artista- que, de facto, marcou indelevelmente o mundo da música- e, ao longo deste período de tempo, os orgãos de comunicação social (ainda) fazerem peças e editarem supostas novidades, de forma incessante e rídicula, quando, de um dia para o outro, a informação de relevo residia no facto de ter passado mais um dia sem haver resultados da autópsia feita ao cantor. Este tipo de comportamento dos media é manifestamente inaceitável e demonstra que os critérios jornalísticos pelos quais se regem as redacções deixam muito a desejar, soçobrando aos interesses comerciais das empresas que detêm o seu capital e, fomentando assim uma acefalia completa e inexorável de todos aqueles que se deixam levar por este chorrilho de contra-informação.
Dá-se atenção e importância ao acessório em detrimento daquilo que é mais importante e que deve, realmente, ser transmitido e difundido, dando a entender que voltamos ao tempo do big brother e dos reality shows, em que, apesar de sabermos da exploração que estava em causa, do tipo de programa que era, também se sabia que aquele produto vendia bastante bem, e isso foi o necessário para esquecer e olvidar a ética, sem qualquer tipo de controlo e fiscalização fosse de quem fosse!
Podemos e devemos ter melhor informação, e ao contrário do que tem acontecido, podemos e devemos pugnar por um orgão fiscalizador- ERC, Entidade Reguladora da Comunicação-, verdadeiramente independente e, realmente activo e interventivo, para que se respeite de facto, não só a pluralidade da informação, mas também a sua qualidade e rigor, exigências essas que deverão ser maiores em relação a orgãos de comunicação social públicos pagos com o dinheiro dos contribuintes, ainda que estejamos em plena silly season e não haja muito para contar e falar!

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