quinta-feira, 9 de abril de 2009

Ética na Política


Escrevi sobre um determinado assunto há algum tempo atrás e tenho necessidade de o fazer novamente, tal a indignação que me acompanha após ter visto a composição da lista do PS às eleições europeias de 7 de Junho.
Continua a falta de respeito da classe política portuguesa perante os cidadãos que a elegem, e isto, sem que ninguém venha a terreno fazer algum reparo ou reprovação do comportamento adoptado por esta classe.

Ontem, uma vez mais, confirmou-se que, os partidos políticos propõem-se não só a precaver os seus próprios interesses particulares, mas também a minar a já parca confiança que o povo ainda lhes confere. Assim, o Partido Socialista, reunido em comissão política, aprovou a constituição final da sua lista de candidatos às eleições europeias. Lista essa, que contém os nomes da eurodeputada Ana Gomes e da ex-ministra Elisa Ferreira, o que, de resto, enquanto apostas do PS para atacar as europeias, são obviamente nomes a ter em consideração. O problema surge quando nos deparamos com o facto de ambas as senhoras terem já anunciado a sua candidatura respectivamente às Câmaras Municipais de Sintra e do Porto.

Será porventura possível acumular o cargo de eurodeputado com o cargo de autarca?!
Na realidade não, e todos sabemos à partida o que acontecerá caso ambas as candidatas não conquistem o poder nas "suas" autarquias. Vai haver então, uma debandada para Bruxelas, visto que o cargo de vereador e líder da oposição não tem dignidade suficiente para que se faça semelhante esforço, segundo consta.


Pessoalmente acho que é uma enorme falta de respeito e de ética política uma pessoa candidatar-se a um qualquer cargo público sabendo de antemão, que caso os ventos não corram de feição, não ocupará o correspondente lugar. É trair deliberadamente a confiança do eleitorado, frustrar as suas legítimas expectativas, pois, como se sabe, as autárquicas são eleições em que mais do que a filiação partidária ou as convicções ideológicas se entrega o voto a um rosto, a uma pessoa em quem confiamos. Assim, não é de admirar que os índices de abstenção sejam muito elevados e a sociedade civil esteja divorciada da classe política, que os políticos sejam objecto de inúmeras críticas e alvo do descrédito da população.


Este exemplo que referi é apenas um, entre as várias condutas éticamente reprováveis que podemos apontar aos nossos políticos, e que não é exclusivo do PS, pois na mesma medida, PSD e as outras forças partidárias não têm pejo em renunciar a certos princípios em prole de certos benefícios, sejam eles de natureza política ou não.
Afigura-se fundamental denunciar este tipo de comportamentos, sob pena de que venham a ser prática usual nas elites políticas, com clara lesão do interesse nacional e do interesse de cada um dos cidadãos.
Poucos se atreveram a falar e a lutar por mais ética na política, entre eles Luís Marques Mendes que teve a coragem de denunciar e traçar uma linha de conduta que pretendia ver traçada no partido e que lhe valeu a perda de 2 consideráveis autarquias, bem como o desgaste inerente ao combate que alimentou com os visados. Outros exemplos se poderiam referir de quem ousou enfrentar as práticas estabelecidas e saiu inferiorizado desse combate, mas o que mais interessa, é acentuar, que apenas combatendo esta negligência política, denunciando este tipo de situações e tendo a "coragem" de estar na política desinteressadamente e de forma altruística, com espiríto de serviço e missão e não com a opção da auto-promoção, é que poderemos paulatinamente alterar o estado de coisas a que chegámos, mudando mentalidades e formas de estar.

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