Não se coloca de todo em causa o Direito à Greve, como um direito constitucionalmente consagrado que, como tal, configura uma forma de manifestação e protecção de todos aqueles que, por este ou aquele motivo, demonstram a sua insatisfação e apresentam as suas reivindicações perante aqueles que detêm o poder de decisão, bem como perante a opinião pública em geral.
Portanto, o direito à greve enquanto direito assistido e disponível a todos os que entendam usar deste mecanismo, não pode e não deve ser negado nem desvalorizado.
Existem pois, neste momento duas considerações que podemos fazer em véspera de uma Greve Geral, cujos sindicatos aguardam que seja a maior e mais mobilizadora do Portugal Moderno:
1- A primeira conclusão que podemos retirar é a mais óbvia possível. O País nos últimos 15 anos, tem sido conduzido por políticos incapazes e sem perspectiva quanto ao rumo que Portugal deveria seguir; Para além de não colocarmos Portugal na rota do desenvolvimento e do crescimento económico como seria expectável, enveredamos por um caminho turtuoso em que se evidencia a falta de visão e coragem política para fazer reformas profundas, "mexer" com o corporativismo residente e alavancar o País para a frente. São patentes as "injustiças" da justiça, a falta de cuidado da saúde, o laxismo da educação, o buraco das contas públicas e uma grande quota de responsabilidade da sociedade civil, que não soube, em certos momentos perceber que era necessário uma mudança, uma alteração do estado de coisas. Em suma, todos somos responsáveis, embora uns mais que outros, como sempre.
Como tal, não é de estranhar a insatisfação do povo português, este grito de revolta, de raiva, contra quem não fez o que devia e deixou o País em completo desnorte. Sente-se no dia a dia, nas ruas, nos nossos vizinhos, em nossa casa, que a vida vai piorando e que muitas das coisas a que tínhamos acesso, deixámos de ter. E isto dói, magoa e traz sofrimento, e com estas emoções e sentimentos surge também a mobilização e contestação, coerentes e resultado da insatisfação que impera na sociedade portuguesa.
2- No entanto, e apesar de ser mais cómodo neste momento optar pela "luta" e pela contestação, prefiro relevar, neste momento sensível, as consequências de mais uma Greve Geral e de um País que vai funcionar a meio gás, com consequências nefastas para a nossa economia, para a nossa imagem externa.
A Greve de amanhã, garante-nos desde já a perda de milhares de milhões de euros. São empresas que vão acumular prejuízos, serviços públicos encerrados, transportes com serviços minímos e um País em suspenso. Tal como o número absurdo de feriados e pontes que se permitem neste País, também este tipo de greves deveria ser enquadrada pelos seus promotores, de acordo com a situação económica actual, a necessidade de crescimento económico e competividade, que não se coaduna com a estagnação plena da actividade económica por um dia. Para além do mais, como se sabe, uma grande maioria dos grevistas, não estará em Lisboa e não dedicará um momento do seu tempo para ponderar sobre o estado de coisas, antes aproveitará para ir ao shopping ou ficar estendido no sofá. Também aos líderes sindicais, pouco se lhes pode exigir, sempre movidos pela política bota-abaixista, do dizer-mal, da crítica sem quartel, quando deveriam promover a qualidade e a exigência, como a melhor forma de ajudar os seus associados.
Também eu sou contra este Governo e o que têm sido as suas políticas desastrosas para todos nós. É um dado evidente e dogmático. No entanto, estou certo que apenas com trabalho, empenho e com espírito de sacrifício poderemos sair desta crise orçamental, deste fantasma da iminente presença e intervenção do FMI, da necessidade quase obscena de nos exigirem ano após ano cada vez mais sacrifícios, sem recebermos nada em troca. Por tudo isto, concordando e não colocando em causa o Direito Constitucional à Greve, não é este o momento para parar o País, para promover o facilitismo e o laxismo. São necessários ventos de mudança, compostos de exigência, rigor e trabalho. Só assim poderemos convencer a comunidade internacional de que somos capazes de enfrentar os desafios à nossa dívida externa e à nossa capacidade de endividamento, mas, acima de tudo, de nos convencermos a nós próprios de que somos capazes de alcançar um patamar superior de desenvolvimento e de prosperidade para Portugal.
De todo o modo, boa Greve a todos aqueles que a vão exercer, que saibam manifestar-se pelos seus direitos, e lutar pelas suas ambições, ao invés de encararem o dia de amanhã, como um dia extra de folga.
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