domingo, 27 de setembro de 2009

Dia de Eleições


Após semanas de grande expectativa e alguma indefinição, decide-se hoje, quem irá formar o próximo Governo de Portugal, se Manuela Ferreira Leite, se José Sócrates.
Esta campanha eleitoral ficou indelevelmente marcada pelo chamado caso das escutas a Belém, que envolveu- de forma aparente- o assessor da Presidência da República para a área da comunicação. Caso tanto mais grave que, ao contrário das declarações de vontade do PR em dar todo e qualquer protagonismo, nesta fase, aos partidos políticos, a sua decisão de demitir Fernando Lima das suas funções, acabou por se repercutir, de alguma forma nas intenções de voto dos portugueses manifestadas através de sondagens.
De todo o modo, uma vez mais, os protagonistas concorrentes a estas eleições perderam uma óptima oportunidade de afirmarem, de forma clara, quais os seus objectivos e as suas propostas para o país. Ao invés, desperdiçaram o seu tempo de antena com acusações vãs e inconsequentes, degladiando as suas máquinas partidárias de comunicação, num constante ir e vir de notícias e contra-informação, que tiveram por consequência agudizar o descrédito dos eleitores pela classe política.

Analisando, por sua vez, a campanha dos dois maiores partidos, podemos fazer leituras diversas:
O Secretário-Geral do PS, após um início de campanha bamboleante, ainda na ressaca das eleições europeias, não soçobrou, e manteve, ao longo destes últimos dias de campanha uma atitude extremamente positiva, acentuando alguma obra do seu governo e, colocando enfãse em palavras como modernidade, desenvolvimento e futuro, em oposição à visão "cinzenta", de Manuel Ferreira Leite.
Por outro lado, contou com uma máquina de propaganda extremamente bem oleada, com todas as acções de campanha preparadas com toda a minúcia e pormenor, de forma a que nada falhasse para a opinião pública. Outra estratégia do PS que me pareceu decisiva foi o facto de José Sócrates ter deixado ao critério de outras figuras do PS, a crítica e o ataque sem quartel que foi feito a MFL, acentuando por um lado as fragilidades da candidatura social-democrata sem pôr em causa o seu Secretário-Geral.
José Sócrates recuperou créditos e reforçou confiança. A sua imagem encontrava-se extremamente desgastada por quatro anos bastante atribulados, onde as políticas do Governo, em muitos sectores não foi bem recebida, bem como a sua inoperatividade e falta de eficácia na modernização do país e no seu crescimento. Todos pensemos que o Primeiro-Ministro estava arrumado, mas o que é certo, é que politicamente mostrou toda a sua inteligência e sagacidade na cena política. Geriu bem os debates, conduziu bem a campanha e conseguiu, de certa forma, mobilizar o voto no PS, desacreditando o Bloco de Esquerda- bom debate com Francisco Louçã-, e aparentando uma imagem mais desempoeirada e moderna que MFL. Reuniu apoios e saiu reforçado.


Manuela Ferreira Leite restituiu credibilidade e confiança ao partido social democrata. Não se deixou condicionar pela massa de críticos- a nível interno e externo-, e chamou a si a responsabilidade de organizar o partido, sendo da sua responsabilidade a opção de nomear para líder da bancada parlamentar do PSD, Paulo Rangel, e, em seguida, avançar com este para candidato ao Parlamento Europeu, ambas as decisões com resultados extremamente positivos.
MFL resistiu aos seus opositores e implementou um estilo muito próprio de fazer política, mais comedido, mais reservado e austero e com uma visão muito própria do que defende para Portugal.
A sua campanha assentou na recusa liminar de levar a cabo as grandes obras públicas, de diminuir, de forma considerável o peso do Estado na economia, agilizando e dando eficácia aos seus serviços, reduzindo necessariamente a despesa pública que é, neste momento incomportável. Manifestou a intenção de reforçar o apoio às pequenas e médias empresas como a única forma possível e plausível de atacar o desemprego e a precariedade. Fez declarações de intenção, de exigir uma maior intervenção do sector privado na prestação de serviços públicos, nomeadamente no sector da saúde. Tudo isto disse, sem nada prometer que não pudesse cumprir, elaborando um programa de Governo simples, sem grandes trunfos, mas sério e credível.
Surgiu assim alguém que reunia a preferência e confiança dos portugueses, assente numa política de verdade e de seriedade. Apostou invariavelmente em apontar os tiques autoritários e de soberba deste Governo e do seu Primeiro-Ministro. Tentou recordar a todos os inúmeros episódios que nesta legislatura ocorreram por responsabilidade do Governo e que revelaram falta de liberdade de imprensa, condicionamento e pressão sobre a comunicação social. No entanto, a sua campanha acaba por não resultar bem, pois a cúpula social-democrata não se apercebeu, ou não quis perceber, que os portugueses começaram a ficar fartos do discurso cinzento, das palavras de austeridade, do constante ataque à " asfixia democrática", argumento que de tão utilizado acabou por ter efeitos perversos contrários contra o próprio PSD.
Outros erros de tacticismo político contribuíram para o descrédito da "política de verdade", tal como a tão badalada viagem à Madeira, bem como a opção por candidatos arguidos ou com acusação formada para a lista de candidatos à Assembleia da República, na minha opinião, episódios lamentáveis, desnecessários e muito bem aproveitados pelos opositores.
Assim um sem número de erros e más opções por parte da direcção do PSD em campanha, parecem, ao que tudo indica ter desbaratado o capital de confiança que os portugueses tinham depositado no PSD.


Manuela Ferreira Leite não se apercebeu que a melhor abordagem a esta campanha estava à vista de todos, e residia na incompetência e falhanço global do governo socialista ao longo desta legislatura. Foi olvidado, o facto de José Sócrates ter falhado em toda a linha à sua palavra e às sua promessas eleitorais. O PSD não tinha necessariamente que apresentar grandes trunfos eleitorais, apenas denunciar os erros e a ineficácia de quem estava no poder, não tinha concretizado uma única das tão propaladas reformas com eficácia e, que deixou, de forma irresístivel o país mais debilitado, mais frágil, e os portugueses a viver com cada vez maiores dificuldades. O PSD deveria ter seguido o conselho de António Guterres, que antes de ser eleito Primeiro-Ministro disse que a melhor forma de chegar ao poder, era estar quieto, não cometer erros, e deixar que o Governo caísse por si só, por desgaste dos outros e não por mérito próprio.
No entanto, os dados já foram lançados, decorre este momento a votação e aguardam-se com grande expectativa os resultados eleitorais logo à noite, não só para ver quem ganhará as eleições, mas também para ver, se, de facto, o Bloco de Esquerda conseguiu iludir os portugueses e, se o bom desempenho de Paulo Portas na campanha eleitoral se vai reflectir na votação do CDS/PP.


Para terminar esta análise parece-me relevante acentuar que, o próximo Governo Constitucional não conseguirá obter maioria absoluta, portanto aguardam-se acordos pós-eleitorais ou talvez uma grande instabilidade política, onde o Presidente da República terá uma maior relevância.
Acentuar também que, sabemos de antemão o que acontecerá se o PS ganhar eleições e Sócrates for convidado, uma vez mais, a formar Governo; teremos o mesmo Primeiro-Ministro, mas mais desgastado, mais fraco, com menos espaço de manobra, sem ideias, sem rasgo, sem iniciativa e derrotado numa batalha perdida à partida no esforço de desenvolver Portugal. Nada de bom se perspectiva, portanto.
Aguardemos, os portugueses tem a decisão nas suas mãos e concretizam-na no momento em que estas palavras são escritas. Aguardemos o desfecho.

1 comentário:

Gonçalo disse...

É dificil, e até improvável, mas vamos ver se o voto útil não dá em maioria absoluta para o PS...