José Sócrates, preparou muitíssimo bem este debate, estudando de forma aprofundada o programa do PSD, bem como, o passado político de Ferreira Leite, à semelhança do que havia feito com Francisco Louçã e com bons resultados então. De facto, consciente de que em causa estava, acima de tudo, o julgamento da sua legislatura, e com matéria bastante para ser usada para o atacar, o primeiro-ministro ao longo de todo o debate, esteve sempre ao ataque, tentando descridibilizar MFL, ao mesmo tempo que impedia que a sua "obra" fosse posta em causa.
Por seu lado, a líder do PSD, apostou na fórmula que lhe tem dado bons resultados, mantendo a aposta num programa pouco preciso em certas áreas, com o argumento forte de que o estado se encontra extremamente endividado e que, não pode prometer o que não pode cumprir.
Foi clara a intenção dos dois protagonistas de potenciarem as suas qualidades e méritos, para a seguir passar uma mensagem negativa do adversário. José Sócrates nas suas intervenções utiliza de forma recorrente as palavras modernidade e desenvolvimento para demonstrar a sua ambição e o projecto que tem para o país, e tenta colar uma imagem de conservadorismo e de uma política ultrapassada a MFL. Já Ferreira Leite aposta na sua imagem de seriedade política, de rigor e de verdade, sem falsas promessas para passar a mensagem de que é a pessoa mais indicada para ocupara a cadeira de S. Bento.
Não é claro, neste momento, e a duas semanas das eleições legislativas, qual a fórmula certa para vencer este sufrágio. De tal forma, que os principais candidatos possuem posturas e propõem políticas diametralmente opostas, assim como a sua campanha eleitoral é conduzida de forma diferente. O PS aposta nos comícios com grandes aglomerações de pessoas levadas por autocarros, o PSD, com um orçamento mais magro, deixa o marketing político um pouco de lado, e aposta na sobriedade da sua líder, que tem revelado ser uma boa opção.
Apesar de ter a minha opinião formada há bastante tempo e de o meu voto já estar entregue, entendo que uma larga fatia do eleitorado ainda não tenha decidido em quem votar, isto apesar dos tempos difíceis que vivemos em que é fundamental uma maior intervenção cívica por parte dos cidadãos. Percebe-se esta indecisão e este descrédito por razões óbvias e que se consubstanciam no facto de, nos dias que correm, os portugueses passarem cada vez por maiores dificuldades, o desemprego galopante, a dificuldade de acesso ao crédito, e que tem por consequência uma opinião muito desfavorável dos cidadãos em relação à classe política. Logo, não parece tão descabido quanto poderia parecer que, algumas pessoas, até de outras famílias políticas possam desta vez votar numa senhora, que já por duas vezes integrou governos de Portugal, tomou decisões em áreas como a educação e as finanças extremamente delicadas e bastante contestadas por vezes, que se apresenta a estas eleições com um projecto extremamente simples e, quiçá, alguns dirão, pobre, sem grandes bandeiras eleitorais e sem projectos megalómanos, e com um discurso algo limitado e com direito a algumas gaffes com direito a serem exploradas pela oposição.
Pergunto, por meu lado: o que terá esta senhora de tão especial e tão mobilizador para estar em empate técnico nas sondagens ( provavelmente está à frente nas intenções de voto), quando parece ser uma pessoa, como diz o Secretário-Geral do Partido Socialista, tão retrógrada, tão conservadora, e quando o seu oponente diz que tem obra feita, é brilhante ao nível do marketing político e foi considerado dos governantes mais bem-vestidos do mundo( salvo outras epítetos).
Eu avanço uma explicação; os portugueses estão fartos de falsas promessas, de grandes projectos de desenvolvimento e de crescimento económico que após as eleições nunca se concretizam; estão fartos de após quatro anos da maior legislatura do Portugal Democrático em maioria absoluta, a qualidade de vida seja bem inferior e a tão propalada obra seja parca, insuficiente e mesmo ridícula para as condições que houveram para reformar o país. As pessoas estão cansadas de tanta promessa e afastam-se irremediavelmente da política, dos políticos e de todas as suas vãs promessas.
É por isso que estão a pensar dar a oportunidade de governar a uma senhora que conta acima de 60 anos,não é conhecida pelos seus dotes oratórios, nem pela sua beleza, que se demarca dos restantes por apresentar propostas algo aquém das expectativas das pessoas, que se encontra aposentada profissionalmente e de quem dizem que é conservadora e passadista, sem perspectivas e ambição de modernizar o país. E porquê? Porque sabem que esta senhora está a falar verdade!
1 comentário:
Subscrevo na íntegra a análise (objectiva) dos 3 primeiros parágrafos. Em relação à segunda parte, arrogo-me o direito ao contraditório para a rebater.
Antes de mais, está por provar que os portugueses estão fartos de grandes projectos de desenvolvimento e de crescimento económico (quanto a este último, os números mais recentes são auspiciosos e mostram ser mais do que uma simples promessa) e que imputam ao Governo a responsabilidade pela diminuição da qualidade de vida. É um facto que ela é, infelizmente, uma realidade. Mas pergunto eu: e não o será também nos EUA? Em Espanha? Em todo o mundo? Será que o Governo é responsável pela diminuição da qualidade de vida que também aí se verificou? Concerteza que não e os portugueses sabem-no!
Igualmente por provar, está essa tal capacidade de mobilização de Ferreira Leite (FL) a que aludiste. Porque estará então em empate técnico nas sondagens? A resposta à pergunta resulta da mais elementar análise política. Diz-nos a história que em qualquer país assolado por uma crise (mesmo que internacional), o partido no governo é, normalmente, penalizado nas urnas. Esta é por isso uma oportunidade histórica para o PSD regressar ao poder, pelo que a pergunta está mal formulada. Dever-se-á questionar porque estará apenas em empate técnico? Além do que acima afirmei, avanço com duas razões: o pouco carisma de FL (a nível interno, inclusivamente) e a pobreza do seu discurso, muito aquém do que seria de esperar de uma líder da oposição. É que de uma candidata a Primeira-Ministra exige-se que não se cinja à crítica à actuação do Governo, como fazem outros pequenos partidos sem pretensões governativas; exige-se que apresente políticas alternativas válidas e não que se escude em linhas de orientação vagas (como que pedindo aos portugueses um autêntico cheque em branco), sob o pretexto de que 'desconhece o Estado das contas públicas'. Esse argumento, além de pouco sério, por tentar disfarçar a falta de um projecto e de um rumo, é demagógico.
Causa-me por isso alguma espécie, confesso, que FL se venha arrogar de um certo ascendente moral, como se dona e senhora da verdade fosse. Essa afirmação é, aliás, contrariada pelo seu próprio programa eleitoral, fazendo-me lembrar a velha falácia: ela 'não mente', apenas 'omite a verdade'...
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