quinta-feira, 4 de junho de 2009

Gordon Brown - de líder aclamado a elemento descartável


Deixo aqui uns excertos de um artigo no "i" sobre Gordon Brown, o qual parece que não tem a vida muito fácil.
  • Uma descida vertiginosa do paraíso ao inferno. No curto espaço de seis meses, Gordon Brown passou de líder europeu aclamado pelo seu plano de salvação da banca mundial a elemento descartável no Partido Trabalhista inglês. O resultado das eleições locais e europeias que hoje se realizam em Inglaterra poderá ser o golpe final num primeiro-ministro caído em desgraça: a perspectiva de uma derrota humilhante, com menos de 20% dos votos dos britânicos, já deu origem a movimentações nos bastidores trabalhistas. A sua sucessão é um dado praticamente adquirido.
  • "Oh Gordon, where did it all go wrong?", escrevia ontem o diário britânico "The Guardian", no título de um artigo que analisava a ascensão e queda do homem que sucedeu a Tony Blair no Partido Trabalhista e no governo. "Quando se tornou primeiro-ministro parecia forte, sério e com tudo sob controlo. Dois anos depois está preso por arames e bloqueado pela indecisão, escândalo e inércia."
  • Em Dezembro de 2008, Brown era um primeiro-ministro elogiado pelos congéneres europeus devido ao seu plano de salvação da banca britânica. Poucos meses depois, os estilhaços da crise económica - que já afectavam a sua imagem perante os eleitores ingleses -, foram amplificados pelos sucessivos casos de despesas excessivas, e injustificadas, que envolveram vários deputados trabalhistas. As demissões sucederam-se e tiveram ontem o seu ponto alto com o anúncio antecipado da demissão de mais cinco deputados e elementos do governo trabalhista após as próximas eleições. Situações que, segundo fontes próximas de Brown, citadas pelo "The Guardian", o colocam "na iminência de ficar para a História como o pior primeiro-ministro do Reino Unido".
  • No último domingo, quando o jornal Sunday Telegraph publicou uma sondagem que atribuía 16% de intenções de voto ao Partido Trabalhista nas eleições europeias, Brown garantiu que não se demitia. "Estou a tentar resolver os problemas da economia. Não me demito. A crise não se resolve com truques. Resolve-se de forma séria e com calma", argumentou. A seu favor está o facto de a legislação britânica prever que seja o primeiro-ministro a marcar eleições, durante os cinco anos do seu mandato, que só termina em 2010.
  • Mas a forma abrupta como a imagem de Brown se degradou junto da opinião pública - agravada pela confirmação do novo líder do Partido Conservador, David Cameron, como um político capaz de derrubar os trabalhistas - fez soar os alarmes no partido.
  • Ao final da tarde de ontem, as edições online da imprensa britânica davam como confirmada a existência de um "plano detalhado dos rebeldes trabalhistas" para afastar Brown da liderança. Um processo que, segundo o site do "The Guardian", originou uma recolha de assinaturas para um manifesto intitulado "Gordon must go" (Gordon tem de sair). O objectivo é garantir apoios para um plano que prevê a sua demissão "até à primeira semana de Julho", o que permitiria que um novo primeiro-ministro nomeado pelos trabalhistas tomasse posse "no dia 2 de Julho". O ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, David Miliband, é apontado como a mais forte hipótese para a sucessão.
  • Independentemente dos nomes, na génese desta estratégia está a expectativa de um desastre eleitoral que "aumente a pressão" sobre Brown e o leve a concluir que não tem condições para continuar. A ideia é simples: estancar o quanto antes a erosão de eleitores trabalhistas e iniciar um processo de revitalização no partido e no governo. Sob pena de o Partido Conservador continuar a crescer - sondagens recentes sobre as intenções de voto para as eleições gerais estimavam um resultado de 39% para os conservadores, contra 23% dos trabalhistas.
  • A queda de popularidade de Gordon Brown tem sido, de resto, aproveitada por David Cameron para dramatizar a necessidade de antecipar eleições. Em Maio, quando rebentou o escândalo dos gastos excessivos dos deputados, o líder conservador defendeu que "a única forma de sair desta confusão é o Parlamento ser dissolvido e convocar eleições gerais". Um cenário que os trabalhistas tentam evitar a todo o custo, mesmo convictos de que Brown está a mais.

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